quarta-feira, junho 04, 2008

Excesso de confiança

Parte das minhas amigas, a maior parte até, tem uma relação de cerimónia com as suas mulheres-a-dias. Quando elas vão lá a casa, saem elas, as donas de casa. É muito comum falar com uma amiga que me diz «vamos tomar café na 4ª, que é dia de ir lá a D. Laura e eu vou mais tarde para casa». Por um lado pensam que ‘atrapalham’ porque se metem no caminho quem está a aspirar, ou a limpar o pó, por outro sentem que é constrangedor para a outra estarem como que a controlar o trabalho. Eu não. A minha ‘fada-do-lar’, já frequenta esta casa aí há uns 15 anos, conhecemo-nos bem – até fui ao casamento da filha que vi crescer tal como ela viu crescer o meu filho.
Não me importo nada de estar em casa ao mesmo tempo do que ela, apenas fujo do sítio onde está a aspirar e pronto. Se quer conversa e eu não, pego num livro e ela reconhece 'o sinal' e vai à vida, mas por vezes até lhe dou troco e vamos fazendo umas considerações sobre o custo de vida, ou o telejornal. Tudo em grande harmonia. Ela conhece bem as minhas gavetas e os meus armários, só não mexe em papéis e livros.
Muito bem.
Agora vem a nuvem deste céu azul.
Com a minha relativa ‘invalidez’ recente, ela tornou-se dona-de-casa. O excesso de confiança faz isso. Peço que me compre umas bananas e maçãs e aparece com mais laranjas para fazer sumo, e produtos para uma sopa; mando vir leite e traz também carne picada para almôndegas e ainda uns queijinhos frescos… Eu tinha refeições planeadas para dois dias, mas quando dou conta estou a comer uma coisa completamente diferente, que ela achou que era melhor. Hoje, no fim do almoço pedi uma pêra, e ela aparece-me com uma laranja já descascada, porque já se tinha adiantado.
O que é que se faz??? Ainda por cima, olha-me de olhos muito abertos: «Tem de comer! Olhe que depois fica fraquinha, precisa de foooorças!» Eu sorrio e vou aceitando, calada.
Mas ando a magicar a que recursos de diplomacia vou ter de recorrer para recuperar as rédeas da minha própria casa!?


20 comentários:

Anónimo disse...

LOL sei bem como é! A Etelvina (aquela empregada que tive anos) mandava em tudo cá por casa. Só quando se foi embora é que encontrei coisas que tinha arrumado mas depois não se lembrava onde, já para não falar em eu entrar em casa e encontrar os móveis todos mudados :DDD E eu, voltava a insistir que como eu queria é que iam ficar. É uma maçada, porque a intenção é boa e depois ficam muito ofendidas e magoadas se se lhes diz alguma coisa.
Diz-lhe que o médico não te deixa comer laranjas e, se ela trouxer outro almoço, insiste em que arrume essas coisas e faça aquilo que tinhas decidido. Beijinhos e as melhoras!

cereja disse...

Olá Catarina!
É isso. Mudar os móveis ainda não chegou lá, mas já quanto às gavetas e armários da cozinha, isso, muitas vezes sou eu que tenho de perguntar «Onde é que está agora o jarro da água?»
O que nos toca é que a intenção é a melhor possível! Muito maternal e tal e coisa, mas...

josé palmeiro disse...

Delicioso este teu escrito.
Como me lembrei da Florinda, a "nossa Forinda".
Mas , cá por casa, pratica-se a mesma tactica que tu utilizas.
Agora, no teu caso, é sublime, então querias que ela nada fizesse? Não, a senhora está em recuperação, tem é mais que se dedicar à sua recuperação e nem sequer pensar, nas coisas comesinha da casa, ainda por cima as refeições, ela que sempre achou que fazia melhor que a senhora, agora é só por em prática.
A minha saudação e reconhecimento a todas as "Florindas", as verdadeiras, do mundo.

Anónimo disse...

Ehehehehe!!!
Gostei da imagem da rainha descoroada, a pensar na recuperação da dita coroa!!! :)))
É mesmo isso o 'excesso de confiança' tem as suas facetas boas e as más. Olha, um conselho tu que gostas tanto deles, aproveita a parte boa e quando te sentires melhor logo recuperas o ceptro!

Anónimo disse...

Huuummm...
Isto, King e Palmeiro, são homens e pronto!
Eu cá estou solidária. Nada mais irritante do que de repente sentirmos que 'mandam-em-nós' sem mais nem menos. Na minha casa não, mas na da minha mãe também há uma Etelvina ou Florinda, ou ... (não sei como se chama a tua) e é meia dona de casa.
A tua 'crónica' está muito gira porque é exactamente assim!
Eu pertenço ao grupo das que abandonam o forte!
lol!!

Anónimo disse...

Pst! Oh amigos! Eu dizer que «são homens» não era ofensivo, heim?... Mas é que vocês afastam-se mais destas lides. A gente tem mais a mania que manda, e depois sentimo-nos desautorizadas.

Rita Inácio disse...

Emiele
Desde já, as suas melhoras! :))Rápidas!
Eu continuo a tentar tomar conta das rédeas da minha casa, em tudo. Ainda não tenho empregada, mas confesso que é difícil chegar a todo o lado. E quando acabo numa ponta, tenho que começar na outra... Mas são opções!

Eu entendo quando as suas amigas dizem que saem de casa..., talvez eu também saísse, porque quando estou a fazer limpeza não gosto que ninguém esteja em casa, e quase que rezo para que ninguém entre nos minutos seguintes ao cessar da mesma. :)))))))))))
Manias! Vai-se lá perceber porquê?!
:)))))))))

cereja disse...

Pois é. (por acaso agora é que vi que escrevi "Hoje no fim do almoço" e isto saiu de manhã... :D Gato escondido com o rabo de fóra! é que foi escrito ontem, é claro...)
Evidentemente que há aspectos bons e maus. Por isso é que falei em diplomacia, não a quero ofender, mas por outro lado eu também sou um nadinha autoritária, e dona do meu nariz de modo que agora tenho de fazer umas piruetas para não me chatear.
Olá Ritinha. Obrigada pelos desejos de melhoras. Com tantos amigos a torcer por mim, isto tem mesmo de ir!!!

josé palmeiro disse...

Mary, isto do King e do Palmeiro, serem homens, não dá, sequer, para duvidar, quanto às outras considerações, já não tanto.
Pela minha parte, e só por ela falarei, digo-te que sou bastante interventivo e assistente, em coisas caseiras. Tudo o que temos, nos saíu do nosso esforço e amor compartilhado, pelo que não faria sentido, não ser assim. Aliás, no meu canto, gosto muito que me deixem as coisas como as tenho, numa desarrumação, arrumada, para mim e quando alguma coisa é mexida, podes ter a certeza que dou por isso. Há uma coisa que nós por cá sempre fizemos, foi, controlar tudo muito. Há contudo um lado que eu não domino é a cozinha, sou mais de comer e de apreciar, depois de feito. mas também tenho as minhas manias como, colocar a louça na máquina e arrumá-la, depois de lavada. Quanto aos alumínios, passo, não sei porquê, mas acontece. Agora se a "fada do lar", sabe cozinhar e é eficaz, não me meto. De qualquer forma a minha mulher é uma óptima cozinheira e, quanto às limpezas, não abdica de dar as linhas mestras do serviço.
Agora, na situação em que a Emiéle está e eu comparo-a com a do meu filho, ter uma "Florinda", ajuda muito, sem descurar a parte diplomática que é avançada, para a delimitação dos campos.

cereja disse...

Zé Palmeiro, tu tens razão e a teoria certa é a que dizes que se passa na tua casa. Mas, se olhares em redor, olha que não é assim muito comum. O que eu vejo em muitas famílias, é que mesmo a casa sendo dos dois, quem entra em contacto com as 'fadas-do-lar' é a mãe de família. Ouve-se muitas vezes «tens de dizer à - Florinda, ou Etelvina... - para passar a comprar mais pão / ou que a minha camisa não tem botões / ou aquela mesa está cheia de pó / que não arrume o telecomando...»
É o modelo mais habitual.

Anónimo disse...

Por agora consola-te com os mimos. Depois pensa nisso! Ou já é tempo de pensares nisso???

Um abraço grande, querida Emiele.

Anónimo disse...

Cá estou eu a chegar tarde!!!
Como na maioria das coisas que escreves, identifico-me logo!!!
Sabes que durante bastante tempo tive «uma Etelvina» dessas. Aquilo era tudo nosso, e eu até achava graça. Às vezes chateava-me quando ia vestir uma coisa que ela tinha lavado porque achava que não estava em condições (mas eu achava que sim!) ou deitava fora um restinho de uma comida que eu tinha pensado usar para uma omeleta mas segundo ela aquilo já não dava para nada. Mandona à brava, mas eu achava alguma graça.
Por motivos que não interessam foi-se embora, e agora tenho o tal sistema da empregada invisível. Deixo recados escritos, o cheque no fim do mês, mas nunca a encontro. Começou porque os nossos horários não eram compatíveis, mas o certo é que me habituei, e agora acho que já não me habituava à presença de outra pessoa no meu espaço...

Anónimo disse...

Ena! Tive uma ausência prolongada e vejo que por aqui houve algum reboliço. Estive a ler desde lá debaixo e já sei que 'estás de baixa' e de joelho ao peito. Tadinha...
Quanto a este post está bem caracterizada os dois grupos de patroas.
Eu sou das que a Joaninha agora chamou patroas de empregadas invisíveis. É uma espécie de magia, abrir a porta e a roupa estar passada e a a casa aspirada! Só é pior chegar ao fim do mês e o ordenado diminuir, mas enfim fadas fadas só lá nos livros...

cereja disse...

Pois é Estrela-do-Mar, estiveste muito tempo sem cá vires, depois apareceste mesmo antes da minha baixa, e assustaste-te e fugiste de novo!
:D
De facto a expressão de «empregadas invisíveis» que a Joaninha usou tá bem visto! É capaz de não ser muito justo, mas é realmente assim.
(eu também ando a achar graça a passar por aqui muitas vezes por dia!)

Mar disse...

Aton é só pra dezêre o seguinte, sô dona Emiéle que eu amanhã tenho que ir ter com a minha prima que por causa do cunhado não pode ficar-me com a vlehota que já tem 89 anos, Deus má conserve e é por isso que não posso vir passar a aferro táávêre, mas ê despois no Sábado ponho tudo num brinco fique vocemecêi traquila e olhe nâ mexa na tomada do frigorífico que eu dêtei lá pra drento um cadinho de oleo de cedro que dizem que é bom pra olear e aquilo agora faz umas faíscas, cousa pouca.

....


....



....Er....nã era nada disto. Só para dizer que estimo muito as melhoras da menina, coma muita fruta que lhe faz mesmo bem. :-)))

cereja disse...

Ai Mar, lá para o passar a ferro, é que preciso mesmo dela! Não agora, mas sempre, não é coisa que me agrade nadinha! Quanto à «minha» Filipa (vá lá, sempre vai o nome...) se tivesse deitado alguma coisa numa tomada que fizesse faíscas, era mulher para descobrir um electricista num ai. É das qualidades que ela tem é que desembaraça-se a fazer bricolages e quando a ultrapassam conhece tudo o que há aqui à volta de canalizador, a electricista! Isso é uma 'prenda' que é muito invejada pelas minhas amigas :D

'Brigadinha Mar. E eu gosto muito de fruta, até. Mas apesar de tudo podia ser eu a escolher o que vou comer, né??? :) Enfim talvez eu tenha aí uns pecados a serem descontados.

Anónimo disse...

Ontem lesionada "moralmente" e não só, como estava,nem me atrevi a abrir o blog...Hoje calculo que deixes organizadamente uns postezitos para entrar enquanto vais ao doutor...Mas não resisto a comentar neste post,que a relação da "burguesia""esclarecida" ou mesmo dos intelectuais com a classe operária sempre foi um mito mesmo qd.se trata de uma luta tão simples como pera versus laranja...(bora aí para o comicio-festa?).AB

Anónimo disse...

Ontem lesionada "moralmente" e não só, como estava,nem me atrevi a abrir o blog...Hoje calculo que deixes organizadamente uns postezitos para entrar enquanto vais ao doutor...Mas não resisto a comentar neste post,que a relação da "burguesia""esclarecida" ou mesmo dos intelectuais com a classe operária sempre foi um mito mesmo qd.se trata de uma luta tão simples como pera versus laranja...(bora aí para o comicio-festa?).AB

Anónimo disse...

Entrou duas vezes...Palavra que não foi para me tornar notada...AB

cereja disse...

Olá!
Já entraram os posts de hoje (um ainda não mas está agora a entrar)
Só vou ao doutor mais ao fim da manhã, mas nado mais preguiçosa para me levantar.
[E para ajudar à festa, devo ter tido um ataque de vírus contra o meu pc esta noite, que isto está muito estranho e super-lento!!! ]

Pois, estas relações nem sempre são das melhores, e talvez haja algum complexo de culpa ou coisa assim, sei lá! Mas encontrar o ponto certo, não é fácil. Também sabes isso :D