quinta-feira, abril 24, 2008

O Diário da Ana


Quarta-feira, 24 de Abril de 1974
É já amanhã que estreia no Londres o «Hiroshima, mon amour». Durante algum tempo imaginámos que este filme nem cá viesse, mas afinal enganámo-nos.
Não vamos à estreia mas estou muito desejosa de finalmente o poder ver! Já tem uns aninhos e estava já a pensar que nunca mais cá chegasse. Ele recebeu o prémio da crítica em Cannes, e foi nomeado para o Óscar do melhor argumento, mas Portugal está fora do mapa...
O Paulo tinha-o visto em Paris e ficou entusiasmadíssimo. O Resnais é um realizador excelente embora ‘difícil’, desde «O Ano Passado em Marienbad» que eu fiquei seduzida por um lado e com respeito também. Penso que só ele para pegar naquele texto da Marguerite Duras (que o texto-guião já a gente conhece…) e criar um filme que todos dizem ser sensacional, de mistura entre o passado e o presente, entre o Japão e a França, uma mistura de guerra e de amor.
Vamos ver se não o cortam muito, porque o Paulo disse que há umas cenas que podem vir a ser censuradas pela nossa púdica censura. De qualquer forma é para maiores de 18, mas enfim mais que isso todos nós temos!
Este fim-de-semana estamos a pensar em ir até ao Algarve dar uma volta e avaliar as hipóteses de começar a apalavrar uma casinha de pescador para as férias de Verão. Estamos já quase em Maio e se deixamos para muito tarde depois torna-se mais difícil. E sabia bem uma voltinha e mudar de ares. Vamos ver se dá.
(Estamos quase em Maio, e ainda hoje veio no jornal, numa noticiazinha muito discreta, dizendo que tinha havido uma «manifestação subversiva na Cova da Piedade»; depois de analisada essa 'terrível manifestação' tinha sido o lançamento de panfletos a «convidar a população a manifestar-se no 1º de Maio» segundo o Diário Popular. Quando pensamos que noutros países o dia até é feriado!)

10 comentários:

Anónimo disse...

E só venho comentar esta,porque tenho de sair já,já."Moi je m'appelle Nevers en France" e ele "Moi je m'appelle Hiroshima".A cadencia destas frases de vez em quando vem lá do fundo da memória.Quanto à Duras,para um determinado tipo de cinema, os textos dela são perfeitos.Olha o "India Song" e olha o espantoso documentário feito pelo filho e pelo Yann e dirigido por ela.Foi fantástica a conferencia que ela deu no S.Luis(conferencia +é um titulo pomposo para o que aconteceu ali)e depois uma rocambolesca fuga dirigida pelo Ramiro para um jantarinho mais simpático(um dia conto).Mas para continuar o racicinio aconselho um livro do Villa Matas,chamado "Paris nunca se acaba"e que conta as atribulações de um jovem que chega a Paris para "ser escritor" e acaba num quarto alugado à Duras e 4 conselhos dela para a escrita...è fabuloso.Bjocas e até ao meu regresso.AB

cereja disse...

Exactamente, AB. A cadência dessas frases, é quase uma música e não se esquece. A Duras é, ela própria, uma personagem de romance. Aliás nesse livro, que o li emprestado por ti, a sua presença é notável!
Quanto ao Hiroshima, não deu para falar aqui no filme (que aliás a «Ana» ainda não tinha visto) mas um dos pontos mais impressionantes é realmente Nevers, o seu caso de amor com um soldado alemão, e a condenação social que isso implica.
A guerra e o amor são demasiado fortes.

josé palmeiro disse...

O facto de estar em Moçambique, privou-me de muita coisa. Esta foi uma delas. O livro, jáo tinha lido, mas o filme só mesmo muito depois.
Quanto ao resto, já está tudo dito, no "diário" pela AB, (espero ansiosamente as outras promessas), e por ti.

Anónimo disse...

Mais recordações...
Gostei muitop deste tom, despreocupado, de estar a combinar o fim de semana.
Pois...

Anónimo disse...

É curioso, que dá a ideia de que nessa altura se «gastava» mais cultura. O que a Ana aqui vai dizendo, evoca o que nessa época eu e os meus amigos fazíamos e realmente raramente se perdia um bom espectáculo. Hoje não sei porquê, mas já me acontece muito, quando me disponho a ir já acabou.
Depos consolo-me a pensar que vejo em vídeo, mas...

Quanto a este filme foi mesmo um marco!!!

Anónimo disse...

Pronto,voltei.Zé Palmeiro ainda não tive tempo de ir procurar o texto de apresentação do Mattoso(ainda não me servia da memória do computador...)Quanto ao resto 8eu suponho que se trata de umas fotos a respeito da "dor no peito" A Emiele qd achar oportuno pôe.Aliás andei à procura do próprio poema, que pensei que tinha em 45 rotações mas não,o que tenho é o "Ser português aqui".Deve existir por aí, nuns livrinhos de côr castanha, que ele editou em tempos, mas tenho tido tanta coisa, que não deu para ir por eles.AB

Anónimo disse...

Emiele e a guerra no amor então...AB

Anónimo disse...

Havia malucos do cinema que chegavam a ir a Paris ver os filmes (Espanha para o caso não servia)
Este exemplo é muito bom.O filme foi um marco, no cinema. Contudo penso que aqui a Ana,- e deve ser mesmo verdade ele estar quase a estrear,que já vi que a Emiéle tem cuidado com estes pormenores - estar a pensar em ir ao cinema e dar uma volta ao Algarve no fim de semana na véspera do 25 é de propósito para dar uma ideia de como apesar de se sentir que «andava alguma coisa no ar» como ela mais atrás já referiu,isto caiu mesmo de surpresa!

Anónimo disse...

Mas foi um filme fabuloso.
O que a guerra fazia as pessoas fazerem, é impressionante. Não me esqueço daquela cabeça rapada...
(e hoje esses sinais exteriores não teriam qualquer importância)

josé palmeiro disse...

Volto, para responder à AB.
Obrigado pelo teu cuidado. Tenho à minha frente um livro do José Fanha de capa castanha que se intitula "O Riso das Aves", mas são poemas escritos por ele e não, necessariamente, os que ele diz. O livro, deixou-mo um dia em que esteve em Loulé, a dizer poesia, num sítio que ajudei a criar, a Casa da Cultura de Loulé.