segunda-feira, fevereiro 04, 2008

«Antígona» na Barraca

Não foi preciso o ‘nosso’ José Palmeiro ter falado nesta peça para despertar interesse em a ir ver.
A Barraca só por si é uma companhia que vale sempre a pena ver, e o ‘atrevimento’ de levar à cena Sófocles, era bem interessante.
A Antígona tem 2.500 anos e, afinal, é profundamente actual: a tirania, a teimosia de um déspota que não aceita que as suas ordens sejam contestadas, a coragem de Antígona em erguer a cabeça defendendo valores em que acredita, defendendo-os mesmo contra a morte, são ideais que se podem dizer eternos.
Creonte e Antígona (José Medeiros e Rita Lello) estiveram magníficos, e Céu Guerra, ‘apagada’ no coro [mentira, a sua voz era reconhecível à primeira...] decerto se sentia bem feliz com o êxito da filha…
Creonte/Medeiros quase que permanentemente em palco, teve uma interpretação excelente. Um grande actor. Dizia uma das amigas que me acompanhou como era curioso que a sua voz enchendo toda a sala soasse ‘baixo’ (gritava baixinho, dizia ela) quando o momento o indicava, e fisicamente a sua grande figura e barba um tanto selvagem dava um Creonte que não precisava de mais nenhum adereço…
Antígona/Rita Lello com uma energia e enorme força, mostrou bem que era um dos centros da acção e por esse motivo a peça tem o seu nome. O nome do símbolo da luta contra a tirania e as leis injustas.
Um cenário onde fios de arame farpado definiam claramente o clima de medo ou opressão que se vivia em Tebas. Cenário imaginativo onde várias rampas davam acesso aos diversos planos onde a acção decorria e as colunas que separavam os planos (gregas?) sugeriam quer um Templo (poder religioso) quer um Palácio (poder político).
Tebas?!
Como se vê com clareza o tema continua infelizmente na ordem do dia.
Tebas é hoje, é aqui, é este mundo onde vivemos.





16 comentários:

josé palmeiro disse...

Por motivos óbvios, não comento.
Registo, isto sim, com emoção, as tuas palavras, que sei sinceras e neutrais.
O trabalho da BARRACA, que venho acompanhando ao longo dos anos, desde a Alexandre Herculano as duras, duríssimas, batalhas que vem, ao longo de todos estes anos, travando para uma afirmação, que julgo não necessitar, porque já afirmada, mas sim pelo reconhecimento de um trabalho honesto e constante, na defesa de valores, de que tanto estamos carentes.
Corroborando com as tuas opiniões, daqui envio um abraço sentido a todos os que, deram o seu talento e esforço, para erguer um trabalho, tão lindo como espinhoso, como a ANTÍGONA, afinal, tão actual.

luis manuel disse...

Não ! Custa-me muito dizê-lo. Não tive ainda a oportunidade de assistir a qulquer peça de teatro na Barraca.
Embora vá conhecendo a importância, as vidas de actores, a intervenção social que de lá tem saido para a rua.

luis manuel disse...

Sim porque pelo que apreendi de tudo isso, as vozes lá dentro chegam sempre cá fora!
Usufruam aqueles que estão perto ou que fácilmente se podem deslocar. Mantenham sempre firmes as "estacas" que seguram a "Barraca"

luis manuel disse...

Ao José Palmeiro não faltou a oportunidade de trazer essas vozes à rua. Compreende-se facilmente porquê.
Homem que deixa nas suas palavras o sentido daquilo que precisamos neste mundo.

luis manuel disse...

Pois... a Émiele também é dessa "cepa".
A Liberdade vivida em plena Igualdade.
A determinação em enaltecer os valores essenciais da vida.
Coisas boas que nos fazem falta dia após dia...

Anónimo disse...

Bem tinhas dito, lá no blog do Palmeiro que ias lá. O prometido é devido.
Realmente, descodificando toda essa simbologia, que peça mais oportuna. Um tirano casmurro, que não aceita que possa estar errado, e acaba vítima (e e os outros) dessas suas escolhas.
Vamos ver se ainda apanho o espectáculo.

Anónimo disse...

Boa propaganda, heim...!
E merecida pelo que tenho ouvido.

Anónimo disse...

O Luís se não vive por estes lados, é natural que tenha dificuldade em vir ao Teatro. Mas esta companhia trabalha há tantos anos, que se justifica alguma boa vontade e numa vinda à capital dar lá um salto.

luis manuel disse...

voltei... num breve intervalo. Claro ! para ver o resultado da merecida "brincadeira".

luis manuel disse...

é bom ter(mos) um forte motivo para escrevinhar por "aqui"...

luis manuel disse...

Joaninha... vontade que nem à filha foi satisfeita, por altura das férias de Natal.
Também ela quer passar mais que umas horas pela Capital
É um hábito nosso ir apenas a alguns espectáculos no Coliseu, e fazer visita rápida aos "nossos" pontos de paragem (semi-obrigatória, claro)

Peço uma ajuda e esclarecimento.
Já várias vezes cliquei no nome do José Palmeiro, esperando ser direccionado para o blogue dele... e nada.
Como dizes que a Émilele lá escreveu, agradeço que me indiquem o caminho.

Naqueles que aparecem a "negro"... já sei que não têm endereço... Joaninha, King, Mary... mas passem lá por "casa" que eu gostarei de vos receber

Um abração

cereja disse...

Luis - realmente para se chegar ao Zé vais ter de clicar é no limk que deixei aqui (onde diz em azul «o nosso Zé Palmeiro ter falado nesta peça».)
De resto ele está também nos meus blogs de estimação com o nome "Estou na Sesta".
Espero bem que a malta que passa por aqui também te visite, que vale bem a pena. Mas sabes que nem sempre se comenta..

Anónimo disse...

Com este comentário (ou como se chama a isto? não é uma crítica, pois não?) fica-nos o interesse desperto, é verdade.
Eu não sou muito de teatros. O meu espectáculo é mais cinema ou concertos de música, mas tanto venho ao Pópulo que um dia destes ainda me decido a ver uma «dessas coisas»...:))

Anónimo disse...

Já tinha pensado em arranjar tempo para lá ir.
Raphael, a verdade é que é muito mais fácil ir ao cinema. Há muitos, os bilhetes são mais baratos e os filmes estão mais tempo em cartaz do que a grande maioria das peças.

A Antígona é um marco, realmente. Houve aliás várias outras versões dos gregos até hoje.

Anónimo disse...

Antígona?
Meu Deus, há quanto tempo não leio os clássicos. Bem, de qualquer forma, a minha vida já é uma tragédia (ponto de vista, apenas; outro chamar-lhe-ia comédia...)

Bom dia de carnaval!

cereja disse...

Olá Ciranda! A cirandar por aqui, tão cedo?..
Mas os clássicos podem ensinar bastante, muitas vezes. E este, tal como está representado, é bem actual!