Crianças e abusos
Que a violência, e mais ainda, o abuso sexual exercido sobre uma criança é um acto de uma gravidade inclassificável, creio ser consensual. Qualquer pessoa bem formada sente uma grande revolta e indignação quando tem conhecimento de situações onde tal se passou.
Contudo, essa indignação e o justo desejo de punição da pessoa maltratante, têm de ser correctamente equacionados. Acontece que no afã de recolher provas, de ouvir testemunhos, de esclarecer dúvidas, certos agentes de Justiça acabam por conseguir “revitimizar” as crianças. Passaram por uns momentos terríveis e depois devem contá-los uma vez, e outra vez, e outra vez, a pessoas diferentes, em locais diferentes, em momentos diferentes.
Está a decorrer em Lisboa a «XI Conferência Regional Europeia sobre Abuso e Negligência de Crianças» onde se focou exactamente este aspecto, que muitas vezes não é valorizado.
"As crianças vítimas de violação são submetidas a repetidas entrevistas por parte das mais variadas instituições, feitas por profissionais que muitas vezes não levam em linha de conta a situação de sofrimento acrescido para a criança" explicou um especialista.
Em países que se preocupam a sério e encontram soluções para as suas preocupações, numa situação dessas a criança é interrogada apenas uma vez, numa Children’s House e essa entrevista pode ser visionada em simultâneo por um juiz, assistentes sociais, polícias e advogados.
Mais nada.
Escuso de relembrar o circo que na nossa terra se monta quando há indícios de um caso destes.
Não será a altura de aprendermos alguma coisa?
Contudo, essa indignação e o justo desejo de punição da pessoa maltratante, têm de ser correctamente equacionados. Acontece que no afã de recolher provas, de ouvir testemunhos, de esclarecer dúvidas, certos agentes de Justiça acabam por conseguir “revitimizar” as crianças. Passaram por uns momentos terríveis e depois devem contá-los uma vez, e outra vez, e outra vez, a pessoas diferentes, em locais diferentes, em momentos diferentes.
Está a decorrer em Lisboa a «XI Conferência Regional Europeia sobre Abuso e Negligência de Crianças» onde se focou exactamente este aspecto, que muitas vezes não é valorizado.
"As crianças vítimas de violação são submetidas a repetidas entrevistas por parte das mais variadas instituições, feitas por profissionais que muitas vezes não levam em linha de conta a situação de sofrimento acrescido para a criança" explicou um especialista.
Em países que se preocupam a sério e encontram soluções para as suas preocupações, numa situação dessas a criança é interrogada apenas uma vez, numa Children’s House e essa entrevista pode ser visionada em simultâneo por um juiz, assistentes sociais, polícias e advogados.
Mais nada.
Escuso de relembrar o circo que na nossa terra se monta quando há indícios de um caso destes.
Não será a altura de aprendermos alguma coisa?
8 comentários:
Volta a acontecer-me o que nos últimos tempos se tem repetido: vou ter de volta aqui mais tarde para dizer o que penso, porque tocas num ponto importantíssimo, mas que não pode ser comentado em duas penadas.
Até logo.
Ah, esqueci-me: que foto espectacular para o texto.
Quase nem precisava de texto :)
Muito interessante, Emiéle e matéria de reflexão.
Também penso que as intenções são boas, mas...
Assim como esta história sinistra da «entrega» da menina de Torres Novas ao pai biológico. Não me interessa a Justiça dos adultos, imagino apenas o que pode sentir essa menina.
Primeiro estou muito de acordo com a Joaninha quanto à imagem. De facto, diz tudo. O medo, a solidão, o desanimo ( e o caso de a pessoa em causa estar tão pouco definida ainda ajuda mais a criar essa impressão)
Quanto ao facto de que as vítimas são muitas vezes massacradas, por terem de reviver imensas vezes as cenas que devem desejar esquecer, é mesmo verdade. Isso passa-se como todos sabemos com as mulheres violadas. E aí, com a agravante, de muitas vezes haver o subentendido de que essa violação pode ter sido 'provocada' pelo seu comportamento!
Quanto às crianças, é terrível. Como se sabe, a «entidade maltratante» é frequentemente um familiar. E daí, a dificuldade inicial da queixa, porque até se trata de uma pessoa de quem a criança gosta... Quando finalmente consegue queixar-se, deveria ser poupada daí para a frente.
Isso parece bom-senso, não sei de psicologia mas é o que parece a qualquer pessoa.
Mas é mesmo o que acontece, a história vai ser repetida a assistentes sociais, advogados, médicos, polícias, psicólogos, juízes,
Coitaditos!
Há uma imprecisão, Emiéle. Não «se focou» como dizes, seria mais correcto afirmares que «abordou também» esse tema importantíssimo.
Nunca é demais reflectir-se sobre este assunto!
Mas nota que mesmo citando apenas esse artigo do jornal, diz-se também
«O sociólogo islandês alertou ainda para o facto de que cerca de um milhão de crianças europeias vivem em instituições que muitas vezes não garantem a protecção dos mais novos, transformando-os em "vítimas de repetidos abusos".»
Não esquecer! Sobretudo na nossa terra onde tanta e tanta criança vive em Instituições.
Acabei de deixar o comentário e parece-me que pode ser interpretado como de crítica ao teu post e de modo nenhum queria que se pensasse isso. Acho que fizeste muito bem em falares do assunto. Porque é bem verdade que não se sublinha suficientemente o mal que se pode fazer a uma vítima com essa abordagem desastrada.
E aí, temos também de chamar as coisas pelos seus nomes , e ver a responsabilidade que a Comunicação Social, cada vez mais «taboide», anda a ter nestes casos!!!!
Muito bem, aqui estou eu.
Era impossível não voltar, depois de ler ete tão importante escrito, acrescentado pelos comentários tão ponderados e positivos, na medida em que acrescentam mais qualquer coisa ao que foi dito. Excuso de falar na foto, que como sempre, é escolhida a dedo.
De resto tens toda a razão quando abordas o problema das crianças e das mulheres, como a Mary acrescentou, são repetidamente violadas, depois com os interrgatórios e exames periciais(?) a que são sujeitas. É, manifestamente, um abuso, que o PODER, tem que resolver, sob pena de criarmos extratos, tão maltratados e sijeitos aos maiores vexames, que se possam imaginar. De realçar também a participação de "RS", e da lembrança que tráz das instituições, e da carga negativa que produzem. Resumindo, nunca deixaremos de falar nestes assuntos, que constituem autenticas nódoas, no nosso colectivo.
Este tema diz-me muito, daí o tom um tanto mais emocionado com que escrevi. É que sempre me pareceu que «de boas intenções anda o inferno cheio» e neste caso é evidente.
Assim como é evidente que por melhor que seja uma Instituição é sempre um perigo e um foco de violência, já se sabe.
Contudo, atenção, por muitas Casas Pias que haja, não se esqueçam que é no «seio da família» que mais frequentemente estes casos [refiro-me a abusos sexuais ]acontecem e são ocultos até por quem os devia denunciar primeiro...
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