terça-feira, outubro 02, 2007

O «Caderno» da AB : BURDA, VOGUE E SEVENTEEN

Recordações da AB sobre o vestuário que abrangem quer o post sobre roupa de senhora quer aquilo que se disse sobre modistas e costureiras
A MR morava no prédio ao lado, um prédio hierarquizado em sanduíche, chauffeur e modista respectivamente no rés-do-chão e último andar, proprietários nos dois intermédios. Calculo que a primeira roupa escolhida realmente por mim tenha sido na pré-adolescência mas houve um período de, digamos, balanço. Era de folhear figurinos e de apontar numa espécie de jogo em que se associava a filha da MR para os vários modelos que mais nos agradavam e disputa:«eu sou esta, e eu sou esta».
Esta disputa com o tempo, e foi muito o tempo em que a MR trabalhou para nós, não acabou bem. Mas adiante. Sobre uma mesa redonda onde também estava a Telefonia (objecto que naquela casa servia para ouvir o folhetim do Tide mudando logo de seguida para "Rádio Moscovo não fala verdade") havia os "figurinos" (palavra mais antiga) da estação. «Burda» e «Vogue» para a Madame Menezes, ou para a Senhora Empis (a madame Vaz Guedes parecia ter trazido uns modelos para se fazer moldes) e «Seventeen». ‘Moda jovem’ dir-se-ia hoje. ‘Para meninas’, dizia-se, na altura. E um dia lá me estreei com um modelo florido de tobralco. E foi altura de ir às medidas. Ritual que se iria repetindo a cada estação para actualizar.
Altura de corpo até à cintura, altura de saia até meio da perna, largura de ombros,"braços acima" para medida do busto, comprimento do braço esticado, comprimento do braço com o cotovelo flectido, largura do punho, medida do pescoço..."
e vá lá ABzinha, não esteja tão impaciente que eu ponho-lhe ali um disco"...e lá vinha numa grafonola (leram muito bem, grafonola) roufenha e de manivela, com agulhas numa caixinha, um disco (acetato) do qual nunca mais me esqueço: Rimski-Korsakov--Coq d'Or.
AB

12 comentários:

Anónimo disse...

Quero deixar já um sinal de que passei por aqui, porque prevejo m dia muito ocupado e só muito mais tarde devo ter tempo livre.
A verdade é que hoje os post são compridos e não consigo ler tudo como deve ser de modo a escrever como deve ser.
Este, mais uma vez, está excelente, como a AB já nos habituou. Adorei a cena do «tirar as medidas». Meninas, lembram-se? ou são todas filhas do pronto a vestir?

Anónimo disse...

Cada vez melhor, esta «secção»!!!!
Apetece-me sempre voltar a ler depois de chegar ao fim...

Anónimo disse...

Tenho que dizer que «o caderno da ab» está óptimo, em mais simples com os rapazes era parecido, e não havia quase pronto a vestir.

Anónimo disse...

Eu calculo que seja um pouquinho mais nova do que as pessoas que deixam estes testemunhos, mas ainda tive costureira e usava os tais figurinos. A cena do tirar medidas, era mesmo assim! E todos os anos se actualizava o caderninho onde ela assentava essas medidas!

josé palmeiro disse...

Cá estou eu, primeiro para te agradecer o canal de TV e depois para dizer que connosco, era a mesma coisa. Estavas a falar das medidas e eu a lembrar-me das primeiras medidas para um "fato", no alfaiate, teria eu os meus doze anos.

Anónimo disse...

Pois não fj...e eu tenho um amigo com quem fui um dia já crescidota ao alfaiate e que fez 17 provas,17, para um fatinho.O alfaite era o Lourenço e Santos.Mas já que falas de pronto a vestir lembram-se do jingle do Old England?"para homens ou meninos,os mais "lindos fatos feitos""em modernos padrõezinhos""sem demora e sem defeitos"?O máximo.AB

cereja disse...

Menino mimado, heim...
:)

Anónimo disse...

Mimadissimo!Acabou no Corpo Diplomático.AB

Anónimo disse...

Mas já agora e para não se pensar que só o mulherio tinha vaidades outro amigo "na idade parva"levava sempre na mão um livro de "poche"nos tons dos casacos que vestia...AB

Anónimo disse...

AB, tu és o máximo!!!! O que agora me ri!
Mas é bem importante dizer-se essas coisas porque as «ideias feitas» sobre os caprichos femininos (que não nego que os haja) fazem esquecer que também há por aí uns rapazes bem caprichosos também!
Afinal somos todos humanos, né? Homens e mulheres, é tudo feito do mesmo material.

Quanto ao post que li de manhã sem tempo para comentar, complementa na perfeição o da Clara. O giro neste duo é que a Clara é mais 'distante' um tanto ou quanto mais impessoal, suspeito que esteja na área da sociologia ou coisa que o valha. A AB é mais emotiva, faz-nos partilhar as suas lembranças de um modo pessoal e vivo. Completam-se bem! (isto não é nenhuma avaliação, hã?! quem sou eu para me meter a avaliar seja o que for...)

josé palmeiro disse...

Ainda bem que falaste no "Old England", pois lembrou-me um dia em que o meu pai chegou a casa com umas "amostras", de tecido para um "sobretudo", da referida loja. Tratava-se do início do pronto-a-vestir, isto porque juntamente vinham uns papéis que ensinavam a tirar as medidas, que depois eram enviadas para Lisboa, juntamente com o padrão escolhido. Passadas umas semanas, recebia em casa, o sobretudo, pronto a usar. Foi, sem dúvida uma boa experiência e era mais económico e rápido, que ir ao alfaiate.

Anónimo disse...

Eu não acredito!!!!!!!!!!!!!!
Um livro «a condizer» com a cor do fato ultrapassa tudo o que se imagina de snobismo!
(desculpa, AB, acredito é claro, aquilo é uma força de expressão)