Um Caderno de Capa Castanha XVII - A Lingerie
Como, diferentemente dos chapéus ou luvas onde até se podiam ver em montras, ou dos vestidos que se podiam ver em figurinos, a roupa interior era um reino secreto e oculto e só posso falar de mim própria e da minha família. As minhas cuequinhas, ou combinações, eram feitas pela costureira, de um pano mais delicado, uma cambraia ou um pano acetinado, com umas rendinhas ou nervuras, ficava bonito embora como disse não pudesse comparar com outros, só o que porventura descobrisse num estendal da vizinha…
A minha mãe, que era um tanto anafadinha, mesmo que na altura não fosse ainda ‘moda’ ser-se tão magro como se passou a ‘usar’, mandava fazer por medida em modista especializada uns soutiens resistentes, nuns tons salmão, ou rosa, ou creme, que usava todos os dias e um ou outro em cetim e mais enfeitado para os dias especiais onde se queria vestir melhor. Eu nunca a acompanhei quando ia a essas modistas, só podia imaginar… Aliás a recordação que tenho do meu primeiro par de soutiens é que foram costurados pela minha avó, senhora muito dotada para tudo o que fosse arte doméstica, que aí pelos meus 12 anos me avaliou com ar crítico e considerou que eu precisava de algum amparo nesse ponto da minha anatomia. Fiquei orgulhosa que ela tivesse pensado isso e bem contente quando me apareceu com umas ‘amostras’ de soutien, ainda quase miniaturas mas que me alçavam ao nível de adulta.
Mas havia uma outra peça importante: a cinta. Ai, as cintas! Quando eu comecei a usar, já os anos 50 iam lançados e portanto já se podia comprar em lojas, uma peça toda de elástico e com um reforço à frente na zona da barriga para a manter comprimida e encolhida. Mas quando era criança via as cintas da minha mãe, de um tecido fortíssimo, reforçado com umas varetas muito duras a que chamavam barbas de baleia, e apertavam com uns atilhos que passavam por umas ilhoses. Uma senhora devia usar aquilo bem apertado, reduzindo o volume da barriga e ancas, e tornando a silhueta bem mais airosa mas à custa de que sofrimento diário! Era das poucas coisas que me tiravam o desejo de crescer depressa! Quando por minha vez as usei, como te expliquei, eram mais suaves porque com mais elástico e para além da questão de «ter-de-ser-porque-todas-as-raparigas-usam», tornava-se necessário para prender as meias.
As meias altas, nos anos quarenta de ‘fio-de-escócia’, seda, ou mais fininhas com nylon e chamadas ‘de vidro’, para ficarem bem esticadas ou eram seguras com ligas ou se prendiam à cinta com uns pequenos fechos. Portanto a função dessa cinta para as raparigas era também a de um cinto de ligas de outro tipo. Acabávamos por a aceitar bem. A minha recordação é de que me sentia mais «aconchegada» com essa peça.
E depois o alívio de, à noite, despir isso tudo antes de vestir a camisa de dormir… Que bom! »